Contexto Econômico da Construção Civil
- Guilherme Handler
- 16 de jan. de 2017
- 4 min de leitura
2016. O ano que começou em 2010
Como a maioria dos brasileiros, eu também sofri com a crise em 2016, e traçando um paralelo com os acontecimentos de anos atrás, tento explicar os reflexos mais atuais.
Contexto Econômico
Falo da construção civil, pois é um bom termômetro da economia, sendo o setor que mais emprega mão de obra, desde a menos até a mais qualificada. Inclusive eu, e possivelmente você.
A crise financeira mundial trouxe em 2008 o receio de que a economia no Brasil fosse prejudicada, e que o setor imobiliário, um dos mais prósperos da economia àquela época, ficasse enfraquecido.

No Gráfico acima pode-se observar o crescimento do investimento na habitação e empregos gerados entre os anos de 2007 e 2009. A crise internacional de 2008 prejudicou a participação no PIB, entretanto a partir de 2009 o gráfico volta a indicar crescimento. Para o Brasil a crise internacional foi só uma marola (alguém disse isso).
Até os anos 2010 o Brasil surfava no superávit da exportação das commodities. Em 2011, por exemplo, atingimos o equivalente a US$ 256 bilhões em exportações, aproveitando a alta demanda da China que se tornou nosso principal parceiro econômico.
A construção civil pegou carona nessa onda de prosperidade e bonança. Que maravilha! Inevitavelmente a popularidade do governo foi associada ao boom econômico.
Copa do Mundo e Olimpíadas
Dois dos maiores eventos esportivos do mundo vieram ao Brasil e ao Rio em 2014 e 2016 respectivamente. Os investimentos em melhoria da infraestrutura para abrigar tais eventos estavam em pleno vapor pelo país a fora. Além do mais, a crescente oferta de crédito pelas instituições financeiras impulsionou o consumo, indicando o Brasil como um dos melhores campos para investimento no mundo.
Tudo isso somado ao programa de habitação popular do governo Minha Casa, Minha Vida criou muita expectativa para as empresas atuantes no setor da construção civil.
Em 2009 a revista Exame apresentou um gráfico com a previsão do crescimento do investimento habitacional, do valor das construções, das vendas de material de construção, e do aumento de crédito imobiliário para o ano de 2030. Que fase! Tudo corria muito bem!

Com o objetivo de apresentar a tendência do mercado no estado do Rio de Janeiro aos principais tomadores de decisão do setor público e da iniciativa privada, a Firjan (Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro) elaborou um mapa de oportunidades. O estudo revelou que o Rio de Janeiro era o maior concentrador de investimentos em todo o mundo com R$4 milhões em aportes de recursos por Km².

Uma onda de euforia tomou conta da população. Todos sentiam orgulho de ser brasileiro, e não podia ser diferente: crescimento econômico, oferta de emprego, crédito na praça, boom imobiliário, fomento do consumo, Copa do Mundo e Jogos Olímpicos. Nunca antes na história desse país... Que festa! Que incrível! Que sensacional!
Por dentro da crise
A partir de 2014, por traz desse cenário de prosperidade, foram revelados os escândalos de corrupção. De lá para cá foi um atrás do outro e as notícias não param. Como consequência o país mergulhou em uma estagnação econômica sem precedentes.
Estamos a um passo de 2017 e a crise não é uma hipótese, ela é real, e isso se deve principalmente à falta de credibilidade do governo, isto é, risco político e desconfiança na economia.
Em 2016 as previsões mais acertadas falharam. Nem mesmo Nostradamus adivinharia a inesperada vitória de Donald Trump. Logo, não se pode esperar para o próximo ano nada muito diferente dos reflexos da crise já conhecidos pelo povo brasileiro, como a inflação, o desemprego, a redução de crédito e investimento, a alta do dólar e etc.
Não é ao acaso que os empresários e investidores parecem viajantes à deriva num mar de incertezas. Quem se arrisca a investir nesse cenário?
Reflexos na Construção Civil
Para contextualizar a crise na construção civil, é preciso analisar a herança do crescimento econômico, o boom imobiliário e os investimentos nesse setor.


O legado de infraestrutura que os eventos esportivos deixaram para o Brasil, tais como as novas linhas de metrô, BRT (Bus Rapid Transit), VLT (Veículo Leve Sobre Trilhos), estádios padrão FIFA, museus, e parques, trouxeram a reboque a exploração imobiliária. Só no Rio de Janeiro nos últimos 5 anos de pujança foi construído um volume de imóveis que em condições normais levaria 20 anos.
A consequência é um estoque imobiliário que o mercado não consegue absorver nem nos tempos de vacas gordas, pior ainda em condições adversas. Além disso, enquanto a economia nacional não mostrar sinais de reabilitação, será difícil prever um novo ciclo na construção civil. Cabe à administração pública adotar medidas que ajudem a iniciativa privada a encontrar um caminho alternativo, uma saída.
Foram mais de meio milhão de demissões em 1 ano no setor que gera 3 milhões de empregos diretos e representa 6,5% do PIB nacional. Redução das vendas e aumento das devoluções com consequente diminuição do VGV dos imóveis. Gigantes do setor, Andrade Gutierrez, OAS, Queiroz Galvão, e Odebrecht estão em processo de recuperação judicial, e tiveram seus executivos presos. Não é para menos, pois os casos de corrupção deflagrados pela operação Lava-Jato e suas delações do fim do mundo parecem revelar o apocalipse na construção civil.
E agora, o que esperar?
Agora cabe ao governo um conjunto sensato de medidas que equalizem as contas públicas, freiem a inflação e baixem os juros.
Uma equipe de governos com credibilidade, e capaz de calibrar a economia, vencendo a crise político-econômica.
As tão debatidas reformas no âmbito político e econômico devem ser priorizadas para tornar o país mais justo e igualitário, e que uma economia mais linear sem altos e baixos, confira a previsibilidade necessária ao projetos futuros.
Por sua vez, os investidores devem ser mais previdentes. Um pouco de cautela não faz mal a ninguém.
Além das esperanças renovadas, quais ensinamentos nos trará 2016, o ano que começou em 2010?
Comentarios