Política vs. Economia: as relações de poder e suas consequências para a sociedade
- Emanuel Vargas
- 6 de fev. de 2017
- 3 min de leitura

O governo influencia de diversas formas a economia e a sociedade. Seja por meio de suas principais funções – alocativa, redistributiva e estabilizadora – ou, mais especificamente, por meio de uma política econômica, que visa garantir o pleno emprego ou quaisquer outras características fundamentais. Todos esses mecanismos ou qualquer que seja o modelo adotado por uma nação, passa por um processo de aceitação pelos indivíduos que representam a sociedade como um todo ou parte dela, como deputados, prefeitos, governadores e até mesmo presidente ou qualquer outra denominação, os quais possuem poder para tal exercício da função e atribuições.
Poderíamos, então, supor que estes indivíduos que representam a sociedade possuem poder para decidir sobre as atividades do governo e suas influências sobre a economia e sociedade, uma vez que esta sociedade como um todo não pode possuir tal poder? Num primeiro momento podemos achar que somente os integrantes do governo possuem poder sobre a sociedade e assim, podem tomar decisões em nome dos indivíduos que a compõe. Mas, será que é isso mesmo? Antes de responder a pergunta, proponho uma análise sobre o que é de fato poder.
Segundo Michel Foucault (1926-1984), o poder não é uma coisa ou um objeto, e não está na mão de uns e outros não o possuem, mas é, na verdade, um fenômeno social. O poder está presente nas relações sociais, como quando um filho negocia com o pai, ou quando a sociedade resiste a uma decisão de um governador. Assim o poder não está concentrado no governo ou qualquer representação que lidera a sociedade, mas está em uma rede disseminada pelas relações existentes.
Foucault observa ainda que onde há poder há resistência, e assim como o poder não está presente em um ponto fixo, a resistência também se distribui por todas as relações sociais existentes. Ele observa concepções negativas e positivas sobre o poder, são elas:
Negativa: está ligado ao governo por meio de ações repressivas ou coercitivas, quando castiga para dominar ou impõem diretrizes sobre as obrigações dos cidadãos;
Positiva: quando está relacionada a satisfação de desejos e prazeres (Podemos observar que se o capitalismo fosse repressivo não iria se manter como sistema).
Agora sim podemos responder à pergunta a cima. Seria então o governo, o único possuidor de poder sobre os demais?
Não, o governo não é o único detentor do poder, quando vemos um noticiário sobre protestos e suas diversas formas de ação, estamos vendo uma resistência da população com relação as decisões do governo, seja focada em uma determinada região ou situação, seja ligada a uma situação de crise econômica, daí observamos que a resistência nada mais é do que uma outra força, ou forma de poder, em sentido contraria a decisão coercitiva do governo, quando ele toma uma decisão sem observar os interesses sociais.
Quando os governantes tomam uma decisão, seja ela focalizada em um determinado setor ou na economia como um todo, por meio de suas principais funções e usos de seus mecanismos para manter a economia e o bem-estar da sociedade em equilíbrio, qualquer tipo de resistência deve ser levado em consideração, ou, pelo menos, deveria.
Ainda sobre o poder e sua dinâmica, qualquer decisão tomada pelos indivíduos que compõem a sociedade somente são possíveis pois eles possuem poder. Assim o governo não tem como ter total controle sobre as decisões dos indivíduos que possam influenciar a economia como um todo.
Então o governo não é necessário para a sociedade? Bem, já imaginou se não existisse um governo? O que seria da nossa segurança, nosso saneamento, saúde ou até mesmo educação? A questão aqui não é discussão sobre as atribuições do governo, mas sim até que ponto ele influencia a sociedade e os desejos dos indivíduos que o compõem por meio do poder que ele possui, e como as decisões do governo precisam ser tomadas, com ou sem participação da sociedade. Tomamos como princípio de que o papel do governo é de regular a sociedade e a economia, mas desde que seja em comum acordo, senão haverá resistência, então qualquer tipo de ação contra as decisões do governo, sejam elas protestos ou greves, são justificadas. Mesmo que qualquer dessas ações sejam criminosas, o governo precisa observá-las e levar em consideração essas manifestações da sociedade em suas decisões, a não ser que vivamos em um regime de alto controle da sociedade exercido pelo governo.
Bibliografia:
-FOUCAULT, Michel. Microfísica do Poder. 11ª ed., Rio de Janeiro: Graal, 1997. MICHEL FOUCAULT E A “MICROFÍSICA DO PODER”
-https://www.olibat.com.br/microfisica-do-poder-michel-foucault/ RESUMO MICROFÍSICA DO PODER.
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